Proposta de filme


A propósito do 13 de Maio pode ser interessante (re-)ver o filme “Jacinta”, de 2017.

É complicado para nós, consagrados, vermos filmes como este. Eles narram histórias que nos são familiares. Conhecemos o sucedido, estamos envolvidos com as experiências relatadas. Aquilo que o filme “mostra” alimenta a nossa vida espiritual, define a nossa identidade. E mais do que vermos e saborearmos o filme, avaliamos se o filme está de acordo com o que já “sabemos”.

Outra dificuldade, maior para nós que somos educadores e evangelizadores, é ver o filme de forma “interesseira”: como é que eu vou poder usar este filme na catequese ou no meu grupo ou com aquele grupo de pais?

És convidada a superar estas duas tentações. O filme não ficará na história do cinema. Vê-se com agrado, mesmo por quem não é “devoto de Fátima”, mas não é um filme de excepcional qualidade. Em abono da verdade, fazer um filme sobre uma “estória” tão conhecida é sempre muito difícil qualquer escolha que se faça será sempre criticada por uns ou por outros. Saliento a qualidade da interpretação das crianças, especialmente da “Jacinta”. Parece-me bem mais conseguida do que a dos “adultos”.

O filme oscila entre duas épocas: os factos de 1917 – filmados ao ar livre, com tons de sépia – e o tempo em que a Jacinta está no hospital – filmado em interior e com cores naturais.

A Jacinta é o narrador que, à conversa com uma enfermeira, recorda as aparições e todas as histórias que se sucederam. Pode ser uma agradável surpresa a maneira como ela narra o sucedido. A maior parte de nós conhece a história de Fátima a partir da perspetiva da Lúcia. E é interessante ver como o filme nos apresenta o protagonista. São os “três pastorinhos” que deixam de ser indivíduos e passam a membros de um grupo? É a Lúcia, mais velha, mais liderante? Ou é a Jacinta?

Uma outra abordagem que convido a prestar a atenção é a separação entre o mundo das crianças e o mundo dos adultos. Nós, espetadores adultos, sentimo-nos empurrados entre a proximidade natural que temos para com os adultos: os pais, o pároco, a enfermeira, até os adversários; mas, por outro lado, sentimos que a visão das crianças, mormente a da Jacinta, é muito mais sábia, verdadeira. No fundo, esta tensão “obriga-nos” a tomar uma posição: fazes tua a experiência de fé da Jacinta ou ficas do lado de fora?

Bom filme!

Pe Rui Alberto, sdb