Pastoral Vocacional​

Passos para o Discernimento

Discernir com Dom Bosco: cuidar a vida, escutar a vontade de Deus

“Vai pela cidade e olha à tua volta”. Esta foi a orientação que o Pe. José Cafasso[1]deu ao jovem sacerdote João Bosco, quando este lhe confidenciou a dificuldade em discernir a vontade de Deus a seu respeito.

Este pode ser também o conselho que te damos, a ti, que te questionas sobre o que fazer da tua vida, sobre qual o projeto de felicidade que Deus quer realizar contigo: Vai pela tua cidade e olha à tua volta, identificando com verdade e sinceridade aquilo que mais te interpela.

O discernimento vocacional, de facto, é uma relação, é um aprender a decifrar o “falar” de Deus na tua vida e a forma como Ele te quer salvar. É um caminho de descoberta, acolhimento e amadurecimento do dom da tua vocação.

O nosso santo fundador, S. João Bosco, dizia, na linguagem do seu tempo, que para se fazer um sério discernimento vocacional, era necessário cuidar os três “S”s da nossa vida: Saúde, Sabedoria e Santidade[2].

O cuidar da “Saúde” consiste em aprender a conhecer-se verdadeiramente: os limites, as potencialidades, as fragilidades, as qualidades. Para conheceres a vontade de Deus a teu respeito é importante apropriares-te bem da tua história de vida, das possíveis feridas que terão ficado das relações vividas. É fundamental conheceres o teu mundo afetivo; as emoções e sentimentos mais dominantes, a “linguagem do amor[3]” que te caracteriza; o teu corpo e a tua identidade sexual. É muito importante, neste tempo de autoconhecimento, aprenderes a olhar para ti e para a vida, com sinceridade, treinando a capacidade de perdão e compaixão contigo e com os outros. No contexto atual em que vivemos, também poderá ser oportuno perceberes qual o impacto que os meios de comunicação social, nomeadamente as redes sociais, têm na tua vida e na imagem que tens de ti própria(o).
A segunda dimensão a cuidar é a da “Sabedoria”. Aprender a viver bem é o desafio fundamental de qualquer jovem, muito mais, daquele que quer perceber qual a vontade de Deus a seu respeito. Sim, porque Deus é a Bondade, quando nos dispomos a dar passos corajosos no sentido do bem, aproximamo-nos Dele. A qualidade da nossa relação familiar e o nosso empenho em construí-la, são um bom indício da vivência sábia da nossa existência. A família é o lugar do amor gratuito por excelência; aí somos convidados a escolher sempre o amor, mesmo quando os problemas e conflitos existem. Por outro lado, o serviço e a presença gratuita, entre os mais fragilizados da nossa sociedade, são também um bom momento de discernimento vocacional. Fomos feitos para a relação e para o dom e quando o conseguimos fazer de forma totalmente gratuita e entregue, em relação a outros, com quem não temos uma relação familiar, crescemos na capacidade de escutar a voz de Deus. Especial atenção deve ser dada à pertença a um grupo de referência que ajude a caminhar e no sentido de Igreja que te deve caracterizar. Em todo este mundo relacional é fundamental ires fazendo a experiência de perdoar e pedir perdão. Procurar a vontade de Deus significa também aprenderes a gerir os teus afetos, a escolher as verdadeiras amizades e a crescer na virtude. A sabedoria de vida treina-se ainda no aprender a gerir o tempo que nos é dado para viver: trabalho, lazer, tempo livre; é preciso ter coragem de fazer boas opções, de utilizar bem a oportunidade de tempo que nos é dada para a realização de obras que edifiquem, construam, façam crescer os outros.
A terceira e última dimensão apontada por S. João Bosco é a “Santidade”, e apesar de aparecer, nesta partilha, em último lugar, não é, de todo, a menos considerada pelo santo dos jovens. Abrir-se a um caminho de discernimento vocacional é antes de mais dispor-se a aprender a falar com Deus, a cuidar da vida espiritual e de modo muito particular a viver a experiência de oração pessoal e o contacto com a Palavra de Deus. Se é Ele que tem o “segredo” da tua felicidade há, então, que ir muitas vezes aos locais onde a Sua graça é certa: Eucaristia, Confissão. A vivência dos sacramentos confirma-nos na nossa condição de filhos necessitados do amor do Pai e faz-nos crescer na liberdade. Para além desses momentos, podemos e devemos sempre recorrer ao auxílio materno e protetor da Mãe de Jesus. Maria, a “Senhora do Sim” é o modelo que podemos imitar neste caminho de descoberta vocacional.
E finalmente é muito importante que vás partilhando, dialogando e rezando a tua vida e descoberta, na experiência do acompanhamento espiritual. Escolhe um(a) irmão(irmã) na fé que te possa acompanhar. Essa pessoa não deverá decidir nada no teu lugar, mas poderá ajudar-te a ler, nas circunstâncias da tua vida, aquilo que Deus te está a dizer. Quem acompanha deve ajudar o jovem a caminhar rumo à santidade. Sim, essa é a meta do verdadeiro caminho de discernimento vocacional, que sejas muito Feliz, como Deus sonhou!

Bom caminho.

Conta connosco para te acompanhar nesta viagem.

[1]Quem foi S. José Cafasso?

[2]Memórias Biográficas XI, 124

[3]Chapman identificou cinco formas através das quais as pessoas expressam e recebem as manifestações de amor: palavras de afirmação; tempo de qualidade; presentes; atos de serviço; toque físico.

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